Depoimentos do tipo são comuns nas redes sociais. Náuseas e vômitos persistentes, além de dor de barriga intensa, estão entre as histórias de quem precisou ser hospitalizado em decorrência do uso do Ozempic.
A bancária Cassia Elizabete de Oliveira, 56, está entre aqueles que foram parar no hospital. "Nunca mais quero ver esse remédio na vida", diz.
Embora o indicado seja o aumento gradual da dose, que varia entre 0,25 mg e 1 mg, o médico responsável por seu tratamento recomendou o valor máximo logo de início. A ideia era que a bancária emagrecesse 10 kg em 30 dias para fazer uma cirurgia de hérnia no abdômen, mas já na primeira aplicação vomitou tanto que correu para o hospital, onde tomou soro, remédios para náuseas e recebeu liberação após orientações médicas.
"Fiquei 10 dias passando mal a cada coisa que engolia", diz.
O medicamento injetável à base de semaglutida foi formulado para diabetes tipo 2, mas é usado off label no Brasil para tratar obesidade. Um outro remédio com o mesmo principío ativo, chamado Wegovy, foi autorizado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) no início deste ano para o emagrecimento. O fármaco, porém, ainda não chegou às prateleiras.
Publicações nas redes sociais também trazem relatos de pancreatite, inflamação grave do pâncreas, que demanda atendimento imediato. A bula do medicamento alerta para a condição, que tem como sintoma dor abdominal grave e contínua. Histórico familiar da doença, cálculos biliares, obesidade e diabetes tipo II estão entre os fatores de risco para o desenvolvimento do quadro.
A médica Maria Augusta Kara Zellas, professora da Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná, afirma que a substância pode levar a sintomas gastrointestinais temporários, como náuseas, vômito e diarreia. As manifestações ocorrem com mais frequência no início do tratamento e entre alterações na dosagem.
"Conforme o paciente for se adaptando à medicação, aumentamos a quantidade", diz a endocrinologista.
A consultora de recursos humanos Luciana Godoy, 49, começou a usar o Ozempic com a dose mais baixa e, orientada por um endocrinologista, migrou para 0,5 mg. Como não se adaptou, o médico indicou que ela retomasse a dosagem anterior. Segundo a paciente, o tratamento segue agora sem complicações.
"É fundamental ter um profissional do seu lado, nem que seja para suspender a medicação e dizer 'olha, esse remédio ou essa dose não é para você'", diz. "A gente não pode brincar com a sorte".
A endocrinologista Priscilla Mattar, diretora médica da Novo Nordisk, laboratório responsável pelo Ozempic, acrescenta que o remédio não é indicado para quem tem diabetes tipo 1, grávidas, lactantes, menores de 18 anos, pessoas com histórico familiar de câncer de tireoide, síndrome de neoplasia endócrina múltipla de 2 e neoplasia endócrina primária tipo 2.
A profissional completa ainda que a automedicação pode levar a reações alérgicas, intoxicações, e em caso de interação medicamentosa, anular ou potencializar efeitos do fármaco, além de mascarar sintomas ou atrasar o diagnóstico de doenças.
Mattar também reforça que, embora o uso off label do Ozempic para obesidade no Brasil seja comum, a marca não endossa, nem apoia a prática.